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Pós-AVC e o uso de Comunciação Aumentativa Considerações gerais

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como sendo um síndrome neurológico súbito, caracterizado por sintomas e sinais focais devidos à perda de função cerebral de causa vascular, com duração superior a 24horas e/ou morte (3). Pode originar sequelas do âmbito linguístico e sensório-motor que prejudicam a comunicação. Os diagnósticos mais comuns incluem afeção do processo comunicativo, como a Afasia, Apraxia e Agnosia e dependendo da zona cerebral atingida e da dimensão dos danos também o prognóstico face à autonomia comunicativa é variável (3,6).


Cerca de um terço das pessoas acometidas pelo AVC sobrevive com incapacidades permanentes durante toda a vida, e mais de metade necessita de tratamento de reabilitação para minimizar as sequelas, visando manter ou recuperar a autonomia e a qualidade de vida (3). Dependendo da região do cérebro atingida e extensão da lesão, as competências motoras, sensoriais, percetivas, cognitivas, comportamentais, sociais e de linguagem, da pessoa vítima de AVC pode ser afetada, em maior ou menor grau, podendo necessitar de ajudas técnicas de diversas origens de forma permanente ou transitória (2,6).

  



Cerca de um terço dos pacientes com AVC apresentam afasia, mais precisamente há referência a que 21% a 38% sofrem desta sequela (1,3). Apesar da sua relativa frequência, a afasia é uma condição patológica desconhecida de grande parte das pessoas em comparação com outras (6). Esta define-se por redução das funções de linguagem, com incapacidade na produção, repetição ou compreensão da linguagem falada ou escrita, com possível interferência nas regularidades semânticas, sintáticas, fonológicas ou ortográficas. Esta caracteriza-se por alterações de processos linguísticos de significação, que podem ser de origem articulatória e discursiva (2). Trata-se de um fenómeno complexo que ultrapassa as dificuldades para usar ou compreender a linguagem, e fixa-se também em consequências interativas, relacionais ou familiares.


Mas existem outras problemáticas pós-AVC que podem condicionar diretamente o processo comunicativo, quer na função de transação que implica a troca de mensagens, enviar e receber informação, quer na função de interação, que se refere à dimensão relacional e social da comunicação. Assim, pode ocorrer Apraxia, onde há um prejuízo na autonomia em atividades motoras, por incapacidade de realizar movimentos qualificados para a fala; bem como a Agnosia que é a incapacidade no conhecimento semântico de um objeto ou estímulos, por comprometimento de processos percetivos básicos (2,3).


Sabendo-se que as relações humanas comuns são caracterizadas pela função de interação em detrimento da função de transação, no contexto da afasia ou outras, uma pequena conversa pode constituir-se, para estas pessoas, como um meio importante para mostrar que ainda são membros ativos da sociedade (função interacional). Contudo, a dimensão transacional poderá revelar-se muito desafiadora uma vez que implica a mobilização de palavras adequadas, capacidades de estruturação e organização que frequentemente se encontram comprometidas (5, 6).


A Comunicação Aumentativa (CA) tem um caráter multimodal e pode auxiliar neste processo transacional, pois integra vários modos de comunicação, incluindo formas de comunicação não simbólica e simbólica e abrange, nomeadamente, todas as capacidades comunicativas e pode envolver qualquer vocalização ou fala (ainda existentes), texto, gestos, signos manuais, expressões faciais, símbolos, imagens, dispositivos com saída da voz, entre outros, que são usados para expressar pensamentos, necessidades, desejos e ideias em função dos contextos e dos interlocutores (1,4,6).

 

Pessoa com um AVC a usar comunicação aumentativa baseada em texto
Pessoa com um AVC a usar comunicação aumentativa baseada em texto
Pessoa a usar um sistema de comunicação no tablet a partir do varrimento e de switch
Pessoa a usar um sistema de comunicação no tablet a partir do varrimento e de switch

Para além disso visa um duplo objetivo: promover e apoiar a fala e garantir uma forma de comunicação alternativa se a pessoa não conseguir falar. Destina-se a pessoas que não usam a fala como forma preferencial de comunicação e/ou sem escrita funcional e/ou com algum desfasamento entre a sua necessidade comunicativa e as suas habilidades de falar e/ou escrita. Pode acontecer sem auxílios externos e permite a valorização da expressão do sujeito a partir de outros canais de comunicação diferentes da fala que podem ser utilizados e identificados socialmente para manifestar desejos, necessidades, opiniões, posicionamentos (4,5).








Realça-se a importância do trabalho em equipa (profissionais e família) na introdução de um sistema de comunicação, pois deverá ser adaptado ao perfil comunicativo do indivíduo, tendo em conta as suas capacidades, interesses necessidades e contextos. Deve ser introduzido o mais precocemente possível, mesmo ainda no internamento hospital, e todo o ambiente onde o individuo está inserido deve promover a facilitação da comunicação, havendo uma contínua monitorização da evolução no uso da CA, ajustando e acrescendo vocabulário regularmente.

 

 

 

Bibliografia

1.       Solomon, D. e Theiss, J. (2022). Interpersonal Communication- Putting theory into practice (2ª edição). Routledge.

2.      Sociedade Portuguesa de Terapia da Fala. (2020). Dicionário terminológico de Terapia da Fala. Papa-Letras.

3.       Direção Geral da Saúde (DGS). (2017). Programa nacional para as doenças cérebro cardiovasculares. DGS. http://hdl.handle.net/10400.26/21114

4.      Encarnação, P., Azevedo, L., & Londral, A. (2015). Tecnologias de apoio para pessoas com deficiência. Ministério da Educação e Ciência. (1ª ed.). Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

5.      Freitas, S. (2023). Comunicação acessível na Afasia pós-AVC. Politécnico de Leiria: Tese Mestrado

6.      Deuschl, G., Beghi, E., Fazekas, F., Varga, T., Christoforidi, K., Sipido, E., Bassetti, C., Vos, T. & Feigin, V. (2020). The burden of neurological diseases in Europe: an analysis for the Global Burden of Disease Study 2017. Lancet Public Health.

 
 
 

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